domingo, 17 de janeiro de 2010

A CRÍTICA LITERÁRIA NO BRASIL

A CRÍTICA LITERÁRIA NO BRASIL


COUTINHO, Afrânio. A CRÍTICA LITERÁRIA NO BRASIL
Rio de Janeiro, 1968, Livraria Acadêmica, pp. 115-157


Estudo publicado em Revista Interamericana de Bibliografia , Washington april june 64, vol XIV, Nº 2.


I .


A década de 1950, na literatura brasileira, pode ser considerada como da crítica literária. É o momento em que se adquire a consciência exata do papel relevante da crítica em meio à criação literária e aos gêneros de literatura imaginativa, função da disciplina do espírito literário. Sem ser um gênero literário, mas uma atividade reflexiva de análise e julgamento da literatura, a crítica se aparenta com a filosofia e a ciência, embora não seja qualquer delas. É uma atividade autônoma, obediente a normas e critérios próprios do funcionamento, e detentora de uma posição específica no quadro da literatura.

O reconhecimento de tudo isso pode-se afirmar que se fixou naquela década, sob forma tão aguda e profunda que justifica para ela a denominação de a década crítica , pela descoberta de sua autonomia e cunho técnico.

Essa época é uma réplica a outra, de grande importância na história brasileira, a iniciada em 1870 com a geração naturalista, a cujo trabalhos devem os estudos literários no Brasil a maioria dos padrões predominantes a partir de então e só postos em cheque nos últimos quinze anos.

A era da crítica corresponde à terceira fase do modernismo brasileiro. Como se sabe, este movimento, iniciado em 1922 com a Semana de Arte Moderna, em seguida a um período percursor e de preparação, compreende três fases : a primeira, de 1922 a 1930, fase heróica de ruptura, de revolução, de demolição do passado, de polêmica e pesquisa estética, de liberdade criadora, com predomínio da poesia (Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo, Mário de Andrade, Menotti del Piccchia, etc.) ; a segunda, de 1930 a1945, recolhe os resultados da primeira, substituindo a destruição pela intenção construtiva : a poesia prossegue a tarefa de purificação de meios incluindo novas preocupações de ordem política e social (Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Augusto Frederico Schmidt, Vinícius de Morais, etc.), mas foi na prosa de ficção que ela mais se destacou, criando um período de extraordinária floração e esplendor, a partir de 1928, com a publicação de A bagaceira, de José Américo de Almeida, e Macunaíma, de Mário de Andrade, e com a grande geração de ficcionistas - José Lins do Rêgo, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Raquel de Queirós, Cornélio Pena, Otávio de Faria, José Geraldo Vieira, Lúcio Cardoso, Érico Veríssimo, João Alphonsus, etc.; a terceira fase, iniciada por volta de 1945, assiste a um esforço de apuramento formal e de recuperação disciplinar, abrindo novas experiências no plano da linguagem, tanto na poesia quanto na ficção (Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, etc.), mas é sobretudo no campo da crítica de cunho estético e a superação do impressionismo jornalístico, o que leva a designá-la de fase estética do modernismo.

Ao atingir, assim, os últimos anos de 50, a crítica brasileira encontra-se dividida em três grupos. De um lado, os reacionários e saudosistas, que efetuavam o seu trabalho e construíram fama sobre um tipo de crítica opiniática, e impressionista, de comentário irresponsável e superficial de divagação subjetiva, sem cânones e rigor metodológico, sob a forma de militância dos rodapés de jornais, e que não se conformam com perder a situação ; o grupo conservador que se realiza dentro dos ramos tradicionais da biografia crítica, da crítica sociológica e psicológica ; por último, os que buscam um novo rumo para a atividade crítica, na base de um rigorismo conceitual e metodológico, de um conceito da autonomia do fenômeno literário e da possibilidade da sua abordagem por uma crítica estética visando mais aos seus elementos intrínsecos, estruturais, isto é, à obra em si mesma, e não às circunstâncias externas que a condicionaram . A geração empenha neste último movimento está levando à cabo uma completa renovação dos estudos literários e uma revisão crítica da literatura brasileira à luz de novos critérios de caráter estético. Graças a ela, o problema da crítica atinge, neste momento, uma fase, de auto-consciência, de domínio metodológico e técnico, de repúdio pelo autodidatismo e a improvisação, dando preferência à formação universitária.

Esse movimento de renovação da crítica e da revisão estética da literatura está vinculado às tendências universais que caracterizam a atual fase da história crítica, na qual se podem citar o grupo do formalismo ou estruturalismo eslavo, o grupo espanhol de Dámaso Alonso, a estilística teuto-suíça, o grupo italiano da autonomia estética, o new creticism anglo-americano, etc.

II

A crítica brasileira, durante os quatro séculos de evolução literária, enquadra-se em uma ou outra das categorias em que se divide a história da crítica : didática, histórica, sociológica, psicológica, biográfica, filologico-gramatical, impressionista, estética.

1) As origens da literatura, no Brasil, nas fases barroca e neoclássica anteriores ao advento do romantismo, conheciam um tipo de crítica rudimentar , praticada sobretudo nas academias e consiste, de acordo com o dogmatismo neoclássico de origem horaciana , no estabelecimento de regras ou preceitos através dos tratados de poética e retórica tão em voga entre os séculos XVI e XVII. A literatura servia de instrumento ou veículo para a divulgação de mensagens, especialmente religiosas, e éticas . Era o que faziam os jesuítas, como exemplifica a obra de Anchieta : usar a literatura a fim de conquistar o espírito rude dos selvagens para as verdades do catecismo cristão. Assim a crítica funcionava sobretudo através da aprendizagem retórica e na mente de quem a exercia um está sempre o código clássico absorvido nos tratados de perceptística. Essa atitude reproduz-se nos poetas e prosadores mais ou menos didáticos que encheram as academias. Em suas obras de poesia descritiva, encomiástica, hagiológica, jaculatória, comemorativa e em prosa historiográfica ou de narração de fatos da expansão e descobrimento, relatos de naufrágios, aventuras e façanhas de viagens , toda essa literatura produzida durante a época colonial, sob o signo do barroquismo, e, depois, do neoclassicismo, está inspirada, quanto ao aspecto técnico, em princípios críticos oriundos da perspectiva horaciana. De conformidade com este espírito, surgiram os primeiros críticos e historiadores literários brasileiros que atuaram na primeira metade do século XIX : Januário da Cunha Barbosa (1780-1846), Odorico Mendes (1799-1864), João Francisco Lisboa (1812-1863), Gonçalves de Magalhães (1811-1822), Joaquim Norberto de Souza e Silva (1820-1891), Sotero dos Reis (1800-1871), o Cônego Fernandes Pinheiro (1826-1878), sendo este último realmente o iniciador da historiografia literária brasileira . É a “antológica” da crítica e da história literária , em a que as obras eram antologias acompanhadas de biografias.

2) O romantismo rompeu esta tradição, como já havia feito, em parte, a literatura arcádica ao introduzir um sopro de lirismo pessoal na poesia, embora nos demais permanecesse fiel aos cânones neoclássicos. Coube, porém, ao romantismo, nos meados do século XIX, dirigira a crítica e as idéias literárias noutro sentido. A famosa polêmica sustentada em 1856 por José de Alencar (1829-1877) com os epígonos de um neoclassicismo retardado e que se firmava no poema épico de Gonçalves de Magalhães, a Confederação dos Tamoios, é o marco de uma nova era na história da crítica brasileira, situando-se José de Alencar no ponto crucial dessa nova direção.

A grande idéia que entra em cena é a da “nacionalidade literária”. A literatura não deveria realizar-se pelos modelos absolutos das formas tradicionais. Deveria condicionar-se ao meio onde se produzia, recolhendo aos usos e costumes, as tradições populares , as peculiaridades idiomáticas, os temas e os tipos que constituem a cultura do povo. Tinha que fazer-se “nacional”, buscando esse “Instinto de Nacionalidade” , mais tarde (1873) definido por Machado de Assis (1839-1908) em um famoso ensaio, que é dos mais importantes documentos da teoria crítica brasileira.

3) Essa doutrina resultou em um verdadeiro manifesto da independência literária, claro que, inicialmente, dirigido contra o predomínio luso. Recém-libertado do jugo português (1822) , o país tratava de tornar conscientes os motivos dessa autonomia também no terreno cultural, de modo que a reação anti-lusa era o passo imediato necessário no sentido dessa tomada de consciência . Havia sido tão forte e profunda a subordinação a Portugal se justifica a violência da rebelião, abrindo nossos portos a outras influências intelectuais , especialmente a francesa. De qualquer modo , a literatura se lança à busca de um caráter nacional. Voltou-se a atenção para o passado colonial na pesquisa do que poderia constituir os traços definidores desse caráter . Essa pesquisa do que seria a literatura brasileira foi o corolário do grande movimento de indagação histórica, de valorização do passado nacional, uma das importantes atividades desencadeadas pelo romantismo, manifestada na moda dos estudos de história, etnologia e lingüística, e corporifica particularmente na fundação do Instituto Histórico e Geográfico (1838 ). Essa onda historicista contaminou os estudos literários, trazendo ademais a identificação entre historiadores e críticos, o que assinala os albores da historiografia literária brasileira com Francisco A. Varnhagen (1816-1878) , exemplo típico dessa preocupação dos historiadores com o fenômeno literário. Desde então, os estudos críticos de história literária no Brasil se realizariam, segundo uma grande família de críticos brasileiros, como uma dependência da história geral, política e social, utilizando o método histórico, e concebida a literatura como um reflexo das atividades humanas gerais, um fenômeno histórico. A historiografia e a crítica literárias, à luz desse conceito, que é o de um grande setor do pensamento brasileiro até nossos dias, foram vistas como parte da história geral, impregnadas, portanto, de historicismo. Ainda são de atualidade os estudos críticos e historiográficos que tentam explicar as obras literárias através do conhecimento do ambiente histórico de que emergiram e em função do qual surgiram.

Manifestações desse ideal de nacionalização da literatura francesa foram os movimentos “indianista” ( romântico ) e os que o seguiram - “sertanismo” , “caboclismo” , literatura folclórica e outras formas de brasileirismo literário, que desaguaram na moderna literatura regionalista. Em todos predomina a preocupação por encontrar o tipo e o tema brasileiros que melhor capitalizassem ou realizassem esse nacionalismo literário.

4) A valorização da “cor local” e do pitoresco , resultado do romantismo, iria encontrar na ideologia realista a substância doutrinária que frutificaria em expressões de alta qualidade crítica. O princípio relativista, de origem romântica, segundo o qual o homem varia de conformidade com os tempos e lugares, sua verdade residindo na diversidade exterior e interior de costumes, sentimentos, línguas que o tornam típico, teria a confirmação na filosofia do realismo, mormente no postulado positivista do ambientalismo e na famosa teoria determinista de Taine, que coloca a origem da literatura nos três fatores do meio, raça e momento. As teorias de Comte e Taine, o conceito historiográfico de Buckle, ao lado do monismo de Haeckel e do evolucionismo de Darwin e Spencer, formaram o substrato doutrinário da época realista e naturalista, aprofundando a imersão na massa nacional, na ânsia do característico, típico, peculiar, local, que dariam um caráter brasileiro à literatura. A ficção entrou por este caminho, e a crítica ofereceu sua fundamentação teórica, criando uma corrente crítica que se pode denominar sociológica, e cujo método consiste na interpretação da gênese ( daí a crítica genética) da literatura nos fatos sociais, de acordo com o que sugeriram Taine e seus continuadores. É essa corrente uma das mais importantes no Brasil pelo número de seus representantes, pelo valor de muitos deles e pelo prolongado tempo de permanência na cena literária desde a geração de 1870 em diante.

Tobias Barreto (1839-1889), Silvio Romero (1851-1914), Araripe Júnior (1848-1911), Capistrano de Abreu (1853-1927), Rocha Lima(1855-1878), Clóvis Beviláqua (1859-1944) , Valentim Magalhães (1850-1913), Oliveira Lima (1865-1928) , Artur Orlando (1858-1916) , são alguns dos mais notáveis entre, talvez, dezenas de críticos literários que se destacaram segundo os cânones do positivismo naturalista e historicista. A mesma geração pertenceu José Veríssimo (1857-1916), o qual não escapou ao espírito do seu tempo, posto que intentasse reagir contra as doutrinas sustentadas por seu rival Silvio Romero, em nome de um indefinido intelectualismo, em que se apoiou possivelmente por notória incapacidade filosófica e deficiências culturais.


O fato é que a tradição dos estudos literários que representa a monumental obra de Silvio Romero, a História da literatura brasileira (1888) , baseada na interpretação sociológica da literatura , isto é, na crítica pelo esclarecimento de sua gênese ou dos fatores sociais que lhe deram nascimento, teve imensa fortuna no Brasil, e é, ainda hoje grande o número de críticos a ela filiados. A esse grupo pertence o sociólogo Gilberto Freyre (1900), que em trabalhos literários aplica critérios extraídos das ciências sociais e biológicas : Perfil de Euclides e outros perfis (1944) , José de Alencar (1952) , Vida, forma e cor (1962) ; o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902) , também inspirado , embora de maneira menos sistemática e mais eclética em pressupostos sociológicos, historicistas e culturais ; diversos críticos de orientação marxista, entre os quais se destacam Astrogildo Pereira (1890), em Interpretações (1944) , e Nelson Werneck Sodré (1911) , em Histórias da literatura brasileira (1938, 4ª edição ., 1960 ) para os quais o valor literário reside na eficácia com que o escritor soube interpretar os ideais de sua classe e refletir o seu ambiente histórico, social e econômico ; e o crítico Antônio Cândido (1918) , sobretudo na sua obra Formação da literatura Brasileira (1959) , com idêntica tendência ao enquadramento histórico - social como critério crítico.


5) Ao lado da corrente sociológica tem sido amplamente cultivada a interpretação psicológica. Em vez da ligação com o fator histórico - social, trata de interpretar o fenômeno literário mediante a análise do autor, sua alma, caráter, temperamento, e de verificar como os traços de sua psique terão influído na gêneses de sua obra. Muito mais divulgada, porém, é a corrente, que a esta se vincula, da biografia crítica ou crítica biografia, quiçá a mais popular no Brasil, graças à influência de Sainte Beuve, só comparável a de Taine. Não somente as peculiaridades do autor servem aqui de veículo de acesso à compreensão da obra literária, mas também toda a sua vida através de um levantamento de sua biografia, nos menores detalhes, e do ambiente histórico em que viveu. Grande é no Brasil a difusão da crítica biográfico - psicológica, havendo aparecido, nos seus moldes, alguns livros de mérito que superam a pura biografia. Podem citar-se neste caso as obras de Lúcia Miguel Pereira, Machado de Assis (1936) e A vida de Gonçalves Dias (1943) ; de Hermes Lima , Tobias Barreto, (1943) ; de Homero Pires, Junqueira Freire (1929) ; Augusto Meyer, Machado de Assis (1938) ; de Sílvio Rabelo, Farias Brito (1941), Itinerário de Sílvio Romero (1944) e Euclides da Cunha (1940) e Monteiro Lobato (1955) ; de Manuel Bandeira, Gonçalves Dias (1952) ; de Pedro Calmon, A vida de Castro Alves (1956); de Luís Viana Filho, A vida de Rui Barbosa (1941) A vida de Joaquim Nabuco (1952), A vida de Rio Branco (1959); de Raimundo Magalhães Jr., Artur Azevedo e sua época (1955), Machado de Assis desconhecido (1957). Ao redor de Machado de Assis (1958) e outros o sobre Cruz e Souza e Álvares de Azevedo (1961-1962) ; de Josué Montelo, Gonçalves Dias (1942) e O Presidente Machado de Assis (1961) ; de Ivan Lins, Aspectos do Padre Antônio Vieira (1958) ; de Francisco de Assis Barbosa, A vida de Lima Barreto (1952) ; de Waldir Ribeiro do Val, Vida e obra de Raimundo Correia (1960), de Sousa Andrade, Histõria e interpretação de Os Sertões (1960); de H. Nóbrega, Augusto dos Anjos e sua época (1960); de Nilo Bruzzi , Casimiro de Abreu (1957) ; de Elói Pontes, A vida inquieta de Raul Pompéia (1935) , A vida de dramática de Euclides da Cunha (1938), A vida exuberante de Olavo Bilac (1944). A vida e a obra de Machado de Assis têm sido objeto de numerosos estudos, seja de um ponto de vista puramente erudito, seja de interpretação crítico-biográfico ou psicológica, seja ainda de análise crítica ,estilística, comparatista. Citem-se , além dos já referidos acima: Peregrino Júnior, Doença e constituição de Machado de Assis (1938); Astrojildo Pereira, Machado de Assis (1959); Eugênio Gomes, Machado de Assis (1958); Miécimo Tati , O mundo de Machado de Assis (1961) ; Agripino Grieco, Machado de Assis (1959); Wilton Cardoso, Tempo e memória de Machado de Assis (1958) ; Fonseca Pimentel, Machado de Assis e outros estudos (1962) ; de Gondim da Fonseca, Machado de Assis e o hipopótamo (1960); Matoso Câmara, Ensaios machadianos (1961) ; Otávio Brandão , O niilista Machado de Assis (1958) ; Afrânio Coutinho, A filosofia de Machado de Assis e outros ensaios (1959) e Machado de Assis na literatura brasileira (1960) ; Elói Pontes , A vida contraditória de Machado de Assis (1939). A vida e a obra de Jorge Amado foram objeto de estudo de Miécimo Tati (1961) e de um simpósio - Jorge Amado: 30 anos de literatura (1961).

6) Herdeiros do neoclassicismo retórico são críticos literários que reduzem sua tarefa a uma simples polícia gramatical, mantendo-se no plano verbal puro, incapazes de compreender o processo através do qual a palavra se torna literária em uma obra de arte, isto é, o processo através do qual a palavra adquire sentido estético literário. São também numerosos os cultores de uma crítica que se pode , embora impropriamente, chamar gramatical ou filológica. Para eles, os escritores se classificam em bons e maus, que sabem ou não sabem escrever , na medida do uso que fazem do idioma de acordo com os padrões gramaticais, e estes críticos têm sido entre nós um obstáculo não somente contra o reconhecimento de uma língua nacional, senão também contra o desenvolvimento dos estudos de ciência de linguagem e da estilística, pela subordinação aos cânones de uma filologia historicista e normativa que tudo vincula às regras da língua tradicional. O crítico Osório Duque Estrada (1870-1972) foi o protótipo desses críticas gramaticais, atualmente um tanto desacreditados pela reação do modernismo em favor da linguagem coloquial brasileira e contra a gramatiquice.

7) O exercício da crítica literária no Brasil tem sido, em sua maior parte, feito nos jornais, sob forma militante, condicionado à produção literária, que acompanha e julga. É verdade que também se realizou em livros e estudos em revistas, já com caráter mais profundo. Não foi, todavia, esta uma forma corrente, e o uso estabeleceu para ela a denominação de “ensaio”.

Assim , praticada na imprensa diária, a crítica não podia deixar de sofrer a influência do espírito ligeiro e superficial do jornalismo, o que lhe comunicou um caráter circunstancial, aproximando-a do tipo do “review” dos ingleses e norte-americanos.

Essa modalidade da crítica aplicada consiste em fornecer uma “impressão” acerca da obra do momento. Daí que seja comumente como “impressionismo”, ainda que não consiga atingir o nível do verdadeiro impressionismo de Anatole France, Jules Lamaitre , Walter Pater, etc. Numerosos têm sido os críticos que se empenharam nesta atividade, alguns prestigiando-a graças à singularidade de suas qualidade pessoais, especialmente o bom gosto e a sensibilidade literária. Citem-se : José Veríssimo (1857-1916) , João Ribeiro (1860-1934), Medeiros de Albuquerque (11867-1934), João do Rio(1880-1921), Agripino Grieco (1888), Humberto de Campos (1886-1934), Ronald de Carvalho (1893-1935) , Tristão da Cunha (1878-1942), Afonso A de Melo Franco(1905), Múcio Leão(1898), Elói Prates (1889), Sud Mennucci (1892-1948) , Álvaro Lins(1912), Wilson Martins (1920), Temístocles Linhares (1905), Carlos D. de Morais(1902), Moisés Velinho (1901), Odilo Costa Filho(1914) , Guilhermino César(1908), Cândido Mota Filho(1897), Ségio Millet(1898), Oscar Mendes (1902), Luís Delgado(1906), Carlos Chiachio(1884-1947), Guilherme Figueiredo(1915), Rosário Fusco(1910), José Lins do Rego(1901-1957), Prudente de Morais Neto(1904), Antônio Cândido(1918), Alcântara Silveira(1910), Roberto Alvim Correia (1898), Antonio Olinto(1919), Valdemar Cavalcanti(1912), Brito Broca (1907-1961), Olívio Montenegro(1896-1961), Haroldo Bruno, Joel Pontes (1926), etc. Na divulgação literária empenha-se Otto Maria Carpeux (1900).

8) De modo geral, pode afirmar-se que o estudo histórico e crítico da literatura no Brasil, obedeceu, na sua maior parte, a uma orientação historicista, psicológica, prufundamente marcada pelas teorias deterministas da Segunda metade do século XIX. Essa orientação resulta de uma concepção da literatura que a considera um produto de forças históricas e sociais externas a ela e, como tal, um documento de uma época, uma sociedade, uma raça ou uma grande individualidade, em vez de a encarar como um monumento estético. Nisso teve papel preponderante a influência de Silvio Romero, crítico e exegeta do passado literário, além de propugnador das “idéias modernas” que marcou profundamente os estudos literários no Brasil a partir de 1870 sob o signo do materialismo do naturalismo e do positivismo, divulgados sob a rubrica da “Escola de Recife” . O cânone historiográfico e crítico, desde então considerado como verdadeira ortodoxia , consistia em investigar as “raízes” sociais e biológicas das quais nascia a literatura , critério seguidos muito tempo por críticos e historiadores literários. As obras de história literária pós-romerianas seguiram os seus princípios : José Veríssimo, Ronald de Carvalho, Artur Mota, Djacir Meneses, Pinto Ferreira, Antônio Soares Amora e outros. O livro de Brito Broca, A vida literária no Brasil – 1900 (1960) é uma crônica da vida literária da belle-époque no Brasil.

Uma reação contra a doutrina de Silvio Romero estava no ar desde muito tempo. Já alguns críticos inspirados na doutrina simbolista a havia iniciado. Foi o caso de Nestor Victor (1868-1932) , e sobretudo Henrique Abílio (1893-1932) , autor de Crítica pura (1938) ; de Andrade Muricy (1895) , Tasso da Silveira (1895) e Barreto Filho (1908) este principalmente na sua Introdução a Machado de Assis (1947) , na qual reúne análise psicológica e a interpretação estética do fato literário. Mário de Andrade (1893-1945) , defendendo os valores estéticos da literatura e mostrando preocupação pelo seu aspecto técnico, coloca-se como um dos precursores da reação : Aspectos da literatura brasileira (1943) e O empalhador de passarinho (1946). Tristão de Ataíde , o grande crítico da época modernista, lançou uma semente fecunda a reivindicar, na obra Afonso Arinos (1922), um “expressionismo” crítico, como reação contra o anterior impressionismo, e propondo uma crítica em que predominasse o “objeto”, isto é, a obra em lugar do “sujeito”, o crítico, com suas impressões. Na série de seus Estudos, resultado de uma crítica militante, também demonstrou-se sempre atento aos elementos propriamente literários da obra. Igualmente, Eugênio Gomes (1897) , em diversos ensaios de literatura comparada e estudos críticos aplicados a autores brasileiros, em Espelho contra espelho (1949) , Prata da casa (1953), Visões e revisões (1958), O romancista e o ventríloquo (1952), Aspectos do romance brasileiro (1958) , revelou-se perfeitamente na direção da crítica estética.

Porém a reação deveria aguardar ainda alguns anos para frutificar de modo mais generalizado e decisivo. Contra a teoria de que a literatura não passa de um epifenômeno da vida política e social e de que a crítica consistia em sua interpretação genética ou seja de suas raízes e sues elementos extraliterários , desencadeou-se um movimento a favor da compreensão da autonomia do fenômeno literário e de uma crítica estética fundada na análise da obra em si mesma e de seus elementos intrínsecos.

III

Essa reação foi o objetivo de Afrânio Coutinho, na campanha que , a partir de 1948, regressando dos Estados Unidos, empreendeu em termos positivos, submetendo a processo a velha crítica brasileira, na seção intitulada “Correntes Cruzadas” que instalou no Suplemento literário do Diário de Notícias, jornal do Rio de Janeiro, e , depois, em livros como Correntes Cruzadas (1953), Por uma crítica estética (1953), Da crítica e da nova crítica (1957), Introdução à literatura no Brasil (1959) , bem como na história literária que planejou e dirigiu, A literatura no Brasil (1955-1959) , 4 volumes , na qual aplicou o critério estético à análise das obras e à periodização estilística .

A campanha que desencadeou tendo em mira a renovação dos métodos e processos da crítica literária, bem como por uma reforma dos costumes literários, de acordo com a mais pura ética do homem de letras, provocou naturalmente reações e controvérsias, as quais evidenciaram a grandeza e a atualidade do problema que procurava enfrentar.

Sobre os resultados e espírito desse trabalho, há que citar dois testemunhos. O primeiro é de Alceu Amoroso de Lima (Tristão de Ataíde ):



A figura proeminente dessa fase crítica mais recente é o sr. Afrânio Coutinho, que, estreando em 1935 , durante a Segunda fase do modernismo , deu nos em 1940 o seu estudo sobre A filosofia de Machado de Assis que chamou a atenção para o seu nome e com os prefácios aos volumes já publicados da obra coletiva, por ele dirigida – A literatura no Brasil , na qual colaboraram cerca de 50 escritores, marcou um turning point em nossa crítica moderna, (...) Com o neomodernismo e a campanha de renovação crítica empreendida por Afrânio Coutinho e de tanta repercussão nas novas gerações, emergiu o estudo do texto, a expressão verbal, a forma, como sendo o objeto capital da função crítica . Com isso deslocou-se de novo a crítica no sentido do objeto (...) . Daí o nome de crítica formalista que podemos dar esse tipo mais recente da crítica literária entre nós, que marca uma tendência decidida no sentido do abandono do amadorismo crítico, por uma prática profissional, mais cuidada, dessa atividade (...) . Ao lado do nome de Afrânio Coutinho e da obra de que a data, afinal, o início dessa nova perspectiva em nossa crítica, devemos mencionar alguns nomes que começam a revelar-se nesse novo tipo de crítica que inicia uma era nova , no balanço de nossa crítica literária ( “A crítica literária no Brasil “ in Decimalia, Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, 1958, pp. 15-17) .

O segundo testemunho é de Eduardo Portela :

Por isto se fez necessário o estabelecimento imediato de uma nova ordem. Todos, os lúcidos, os que se marginalizaram, reconheciam a falência do antigo sistema. O ambiente se tornou propício à instauração do novo regime crítico. Apoderava-se do país uma mentalidade nova, a do conhecimento aparelhado, da conclusão científica. A fase do amadorismo estava definitivamente sepultada. O espírito da Universidade começava a comandar os estudos literários no Brasil. Afrânio Coutinho foi o principal servidor dessa causa : a de reformulação crítica, da renovação metodológica . Ele mostrou, com intransigência e às vezes até com violência, todo um sistema de idéias novas, que se opunha radicalmente àquela entidade inconsequente e amorfa que era a crítica nas mãos dos nossos críticos de então. E ao mesmo tempo em que lutava para destruir o comodamente estabelecido, a mistificação institucionalizada, o que parecia definitiva e inarredavelmente instalado no país, Afrânio Coutinho afrontava e erguia complexa tábua de valores : a princípio combatida, dificultada, e logo em seguida confirmada, aplaudida. É verdade que ele se inscrevia num movimento de âmbito universal pela renovação dos processos e métodos de pesquisa e investigação literária .E não tardou para que essa consciência e esse ímpeto renovador conquistassem toda a nossa motivação crítica , transformando por completo o nosso modo de operar criticamente e repercutindo, de maneira particular e positiva, em nossa própria concepção do fenômeno literário. Mas eu não penso que a crítica de hoje seja mais eficaz que a de ontem porque os críticos de hoje são mais capazes que os de ontem. Não. Acho apenas que, mais do que eles, temos o tempo a nosso favor. Esse momento a que me referia foi intensamente reflexivo. Às vezes exageradamente reflexivo e doutrinador. O que deu origem a irônicos comentários, segundo os quais a crítica desse período nada mais era do que crítica da crítica. Não tinham, evidentemente, razão esses implacáveis observadores, na sua maioria sobreviventes a velha ordem que não perdoavam o esfacelamento da sua casa de vidro. Não eram capazes de compreender que uma tomada de consciência como a que se operou em nossa literatura teria forçosamente de se fazer acompanhar do necessário e conveniente aparato teórico. E tanto foi oportuno esse comportamento que nos encaminho definitivamente para um exercício superior da atividade crítica. Para a crítica que venho chamando totalizante, porque interessada em compreender a obra literária na sua totalidade. Crítica informada por uma visão totalizadora e hierárquica do fato literário. Voltada para uma razão interna da obra de arte, mas lúcida de que a obra não surge no ar. Não existe abstratamente. Tem por detrás de si um vasto repertório de condicionamentos (“Crítica literária : brasileira e totalizante “, in Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, ano I , Nº 1, setembro 1962, pp. 67-69 ).




Em que consistiu o conjunto de teorias postas em circulação nessa fase ? Eis algumas das idéias fundamentais que integram o arcabouço crítico do movimento renovador :

1) Necessidade da criação de uma consciência crítica para a literatura brasileira, a fim de corrigir a atitude acrítica e empírica na criação e no exercício da leitura ;

2) Valorização do estudo superior e sistemático de letras nas Faculdades de Filosofia, instrumento dessa criação da consciência crítica;

3) Reconsideração dos problemas técnicos da poesia, ficção e drama, graças ao mesmo estudo superior, e, ao mesmo tempo, criação do espírito profissional e de especialização na crítica ;

4) Defesa da perspectiva e abordagem estético-literária na apresentação crítica, contra o predomínio do método histórico, embora sem o abandono das contribuições históricas, mas colocando-as no seu lugar de subsídio, quando úteis à compreensão da obra ;

5) Valorização da concepção estética da crítica , para a qual o que importa, sobretudo, é a obra, o texto, e na análise do texto – de poesia ou prosa- criar métodos que visem a penetra-lhe até o núcleo intrínseco, ou essência estética da obra de arte literária, métodos estes intrínsecos ou egocêntricos em oposição aos extrínsecos ;

6) Estabelecimento de critério críticos de cunho objetivo, “científicos”, isto é, critérios que absorvem cada vez mais o espírito científico, introduzindo em seus domínios as revoluções metodológica e científica que lograram outras disciplinas, e o rigorosismo metodológico característico do espírito científico e das disciplinas que seguem o raciocínio lógico-formal. Mas sem recorrer aos métodos das várias ciências, e sim procurando desenvolver métodos peculiares ao objeto de estudo da crítica literária ( o fato literário ) , ou métodos literários, “poéticos”, estáticos ;

7) Relegação para segundo plano da preocupação biográfica em crítica ; o mesmo em relação aos fatores ambientais, históricos, sociológicos, econômicos, supervalorizados pelo determinismo naturalista ;

8) Revisão dos conceitos historiográficos, à luz desses princípios, com a criação de nova teoria historiográfica para a literatura, que ponha em relevo o fenômeno literário em sua autonomia, e crie um sistema de periodização de natureza estética e pelos estilos individuais e de época.

Eis os principais pontos, centralizados por um pensamento diretor ou princípio de ordem, o de que à crítica compete antes de dirigir a mirada para a obra em si e analisá-la em seus elementos intrínsecos, precisamente os que lhe comunicam especificidade artística. Essa é a crítica intrínseca, ergocêntrica, ,operocéntrica, verdadeiramente estática, literária ou “poética”, em oposição à crítica extrínseca, historicista, sociológica do último século. Era mister quebrar o monopólio da crítica sociológica no Brasil, sem negar de todo a validade dos diversos recursos de interpretação e análise crítica que ela fornecia. O problema é, sobretudo, de ênfase nos valores estéticos, a partir do princípio de que um fato estético-literário exige, como meio mais adequado de análise, um método estático-literário, inspirado em teoria estético-litarária. A primazia há que ser dada às técnicas criadas de conformidade com a natureza do fenômeno a estudar, subordinando-se a elas todas as outras que, estranhas embora, lhes possam ser úteis. Crítica literária, sem dúvida, é aquela que utilizar os métodos literários. Ela porfia em desenvolver seus métodos próprios, o que a elevará à categoria de disciplina autônoma. E esses métodos têm caráter científico.

IV

O movimento da “nova crítica”, como ficou designado esse esforço por encontrar novos métodos e uma nova atitude para a crítica, na base do rigor, científico e da análise da obra literária em si mesma, isto é, no seu valor estético intrínseco, tornou-se o mais importante na literatura brasileira no último decênio e continua dando os seus frutos.

Pode-se, primeiramente, assinalar afirmação, em conseqüência, de uma mentalidade coletiva entre as novas gerações de estudiosos da literatura, inteiramente infensa à concepção anterior que limitava a crítica a ser a expressão da resposta emocional do crítico àquilo que era considerado, por sua vez, à luz de uma filosofia romântica, a expressão da personalidade do autor, isto é, a obra de arte. Essa mentalidade nova cresceu e se consolidou sob a forma de uma consciência grupal, de um espírito coletivo. Foi o que se verificou precisamente com a realização do Primeiro Congresso de Crítica e História Literária, em 1960, na cidade de Recife, Pernambucano. O conclave culminou toda uma evolução recente no sentido de pôr termo à velha atitude, dominada pelos interesses personalistas, as rivalidades pessoais mesquinhas e os falsos pressupostos que sacrificavam a objetividade e impessoalidade, o desinteresse dos estudos literários entre nós. O Congresso evidenciou a criação de uma verdadeira mentalidade de scholarship, para a qual o que importa são os problemas da literatura e não os do crítico, e para a qual os problemas da literatura devem ser resolvidos ou debatidos com a humildade da verdadeira ciência, na base da cooperação, da compreensão e do respeito pelo que os outros fazem ou podem fazer, pelo que os outros estudiosos estão realizando no mesmo campo a merecer a nossa atenção e conhecimento. Assim, o Congresso do Recife, além do seu aspecto intrínseco no que concerne à contribuição intelectual e técnica, teve um significado muito mais amplo, denotando um amadurecimento de nossa consciência crítica e uma atitude de seriedade em relação aos estudos literários.

Foi, portanto, 1960 um ano crucial no que tange à história da crítica, pela realização desse acontecimento fundamental. A importância da reunião foi reconhecida por Alceu Amoroso de Lima, ao enviar uma mensagem ao Congresso, alto e nobre documento em que define sua posição na crítica brasileira, posição primacial pela dimensão de seriedade, elevação e dignidade que emprestou ao exercício da crítica, afastando-a em definitivo da palhaçada e da gramatiquice. Ligando significativamente a cátedra e a imprensa, numa atividade de mais de quarenta anos, sua personalidade respeitável de decano é também a maior figura de nossa crítica moderna, o que é geralmente reconhecido através do preço e admiração que a cercam.

De qualquer modo, o Congresso marcou o fim da era do individualismo feroz, do esforço puramente individual, do trabalho no isolamento dos gabinetes fechados, para dar nascimento ao espírito de equipe e de colaboração científica em que uns auxiliam outros, cooperam e permutam experiências e indicações a fim de que os resultados sejam mais rapidamente e melhor atingidos. Essa modificação de mentalidade é um produto da educação universitária que as Faculdades de Filosofia, com o ensino de letras, vêm introduzindo no Brasil de vinte anos a essa parte. O Congresso ratificou-a.


E ratificou-a pelo próprio lugar em que se realizou a Universidade de Recife, sob cujo patrocínio se deu o conclave. A literatura no Brasil sempre foi produzida à custa do amadorismo. Predominavam o autodidatismo, a ausência de estudo sistemático, de método e disciplina, a improvisação, a facilidade e superficialidade jornalística e opiniática. Em crítica, era sobretudo funesta essa falta de estudo sistematizado, sendo como é ela uma atividade reflexiva.

O Congresso do Recife veio dar um passo decisivo para libertar a literatura dessa mentalidade amadorista, ao colocar-se sob a égide da Universidade. Já a criação das Faculdades de Filosofia, em 1939, havia sido o fato novo a que se deveu a redireção e reorientação da vida literária brasileira, pois, antes, era da mocidade estudantil das Faculdades de Direito que se recrutavam as vanguardas literárias e se constituíam os quadros de homens de letras. Embora com pouco tempo de vida, já é possível, todavia avaliar a contribuição que vêm dando as Faculdades de Filosofia, as quais só tendem a melhorar em influência benéfica à medida que se vai aperfeiçoando o seu funcionamento e sua qualidade de centros de ensino e pesquisa.

Surgindo na linha da nova consciência universitária em evolução o Congresso do Recife, realizado no seio da Universidade, ao agasalho da Faculdade de Filosofia, deu prova de que o homem de letras brasileiro, mais especificamente o crítico, o erudito, o historiador literário, passaram a pensar em termos universitários no que respeita ao aprendizado de letras e à crítica e interpretação do fenômeno literário. É uma nova mentalidade que surge e se consolida, impulsionada pela instituição universitária, e a ela está preso todo o futuro das letras pátrias. Ligando-se à Universidade, o Congresso de Recife colocou-se na senda que as Faculdades de Filosofia abriram para a literatura. Aceitou a idéia nova, que se tornou fato consumado. Enlaçou definitivamente Literatura e Universidade. E iniciou, destarte, a solução do problema da educação e da cultura literária.

Ficou também evidenciada no Congresso a independência da atividade crítica, isto é, a noção de que a crítica literária deve ser, antes e acima de tudo, literária, uma atividade autônoma, com individualidade própria, não subsidiária de outras atividades intelectuais, como era hábito corrente entre nós. Cada vez se fará mais nítida essa distinção : o crítico literário pode ser somente isso, e há uma lata dignidade na sua função, sem que haja necessidade de ser também sociólogo, historiador, político, jornalista, poeta ou romancista, para ter lugar na república das letras. E como tal ele pode Ter posição de relevo, tanto quanto a do romancista ou poeta. Não precisará dispensar-se por outras atividades, nem outros assuntos, desviando-se ou perdendo-se no caminho ; tampouco será o seu trabalho menor em meio aos demais, pois ele tem uma função tão alta quanto qualquer outro, contanto que saiba manter-se num plano de elevação, dignidade e fidelidade ao ofício. Saiba ele , pois, defender-se e defender sua autonomia a posição, em relação aos demais assuntos, sem subordinação a qualquer deles.

Para conseguir tal objetivo, faz-se mister que a crítica desenvolva e aprimore seu instrumental de trabalho, tornando-se a “visão armada” a que aspirava Coleridge. Uma visão armada a serviço da literatura, na análise compreensão, julgamento ; portanto, crítica literária e não biográfica ou autobiográfica.

Não é verdade que “nova crítica” já seja um corpo acabado de métodos e teorias, e os seus adeptos uns conformados com o que lograram até agora como modificação no terreno da crítica brasileira.

O que prevalece no seu espírito é antes um estado permanente da inquietação e busca . Qualquer deles que for sincero consigo mesmo e com a crítica não poderá senão reconhecer que o nosso processo da velha crítica foi terminado. Mas que resta muito que fazer para atingir a meta final, a despeito do que já se realizou como contribuição positiva e prática.

Mas a evolução está em marcha. Os espíritos construtivos, que realmente são os que contam, não estão satisfeitos ; ao contrário, continuam a pesquisa. Contudo, a inquietação e o inconformismo são preciosos. E a esse estado de espírito se deve o que já se realizou, passo de gigante em relação ao pequeno período de tempo que levou para efetuar-se ; mudança radical, se compararmos o que se fazia antes com as preocupações e pesquisas atuais.

Por outro lado, posto que se use a denominação de nova crítica para designar a nova atitude de modo global, os seus adeptos não oferecem unicidade de métodos nem de idéias ou aspirações. Caracteriza-os de maneira de maneira geral a atitude de busca. Porém cada qual emprega os seus próprios meios e segue caminhos diferentes. E isso é mais interessante para a riqueza de resultados e possibilidades de soluções. E se pensarmos que fato idêntico ocorre em outras partes, com a escola formalista eslava distinta da estilística teuto-suíça, da escola espanhola dos grupos anglo-americanos, estes últimos, por sua vez, bem diversificada dentro do new-criticism, compreenderemos a vantagem dessa variedade de tentativas e rumos visando ao objetivo comum de estabelecer a crítica literária como uma disciplina autônoma de abordagem do fenômeno literário em si.

V

O estudo da história da crítica e dos críticos brasileiros do passado mostra que a realização dos congressos de crítica – o primeiro em 1960, em Recife, e o segundo em 1961, na cidade de Assis, sob os auspícios também da sua Faculdade de Filosofia, como o terceiro em João Pessoa em dezembro de 1962, patrocinado pela universidade local – constitui um marco da mudança de mentalidade que se opera na consciência crítica brasileira, a despeito dos esforços dos reacionários que lutam para manter o estado de coisas de que tiravam partido pessoal. Mas a reação contra essa atitude é forte entre os espíritos sérios .

Há uma diferença de mentalidade na crítica brasileira, e a idéia do Congresso é disso um índice , como idéia , mas também pelo valor dos debates e das teses e temas discutidos.

Aquilo, porém, que o Congresso exprime está , outrossim, patenteado nos trabalhos, teses, estudos, ensaios, publicados em livros e revistas, nos últimos dois lustros no Brasil acerca da literatura brasileira passada e presente.

O exemplo mais frisante e indiscutível foi a publicação de A literatura no Brasil, concebida e planejada desde 1951 e lançada entre 1955 e 1959 . A própria possibilidade de uma obra com seu programa já revela uma profunda revolução. E ela não teria sido possível dez anos antes, quer no que concerne ao seu princípio de ordem, quer pela sua execução em equipe, utilizando cerca de 50 colaboradores especializados.

Em comparação com as obras anteriores do gênero , ressalta a olhos vistos a novidade de seu plano e de sua base conceitual, tal como se indica na introdução geral devida ao seu grande organizador e diretor : um princípio diretor de natureza estática que é o conceito estético ou poético da literatura, literatura concebida como arte, a arte da palavra, produto da imaginação criadora, com valor e finalidade em si mesma, dotada de composição específica e elementos intrínsecos; a crítica como análise desses componentes específicos ou estéticos; a história literária como história dessa arte no seu desenvolvimento autônomo; a libertação da literatura de sua subordinação ao histórico, à cronologia e à biografia ; o primado da obra como norma de crítica ; a redução dos gêneros literários aos de específica natureza literária (romance, conto, poesia, drama, crônica, epopéia, etc.) ; a adoção da periodização estilística, fundamentada nas noções de estilo individual e estilo de época, com o estudo da literatura brasileira à luz de uma reformulação dos períodos, em barroquismo, neoclassicismo, arcadismo, romantismo, realismo, naturalismo, simbolismo, parnasianismo, impressionismo, modernismo do que resultou a revisão e a clarificação de pontos duvidosos, obras e figuras não classificadas ou mal interpretadas, como a origem da literatura brasileira, Anchieta, Vieira, o barroco literário brasileiro, o impressionismo na literatura, Raul Pompéia, Graça Aranha, etc.

Naturalmente, pela própria novidade de sua formulação da historiografia literária, a sua realização teve alguns pontos fracos, nem todos os colaboradores tendo compreendido completamente o sentido das inovações metodológicas e conceituais, o que será sanado, por certo, em futuras reedições da obra. Mas o impacto que produziu foi grande e é hoje o tratado padrão no estudo superior de letras no Brasil.

VI

As tendências da nova crítica no Brasil estão, portanto, expressas em A literatura no Brasil, não só no aspecto intelectual, como também nos nomes dos críticos que as procuram pôr em prática, muitos dos quais a integram como colaboradores.

O movimento, porém, tem frutificado em trabalhos independentes, inspirados, também, na idéia da reavaliação estética da literatura e da autonomia da fenômeno literário, bem como de uma crítica estética, fundada na análise da obra em si mesma e de seus elementos intrínsecos, isto é, na aplicação de critérios estéticos à aferição das obras.

Essas preocupações refletem-se em diversos livros ou ensaios recentes, seja referentes à crítica de poesia ou ficção, seja à literatura comparada ou história literária.

Alguns desses críticos novos revelarem-se ou impuseram-se como colaboradores de A literatura no Brasil: Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919) , Waltensir Dutra (1926) , Fausto Cunha (1923) , Franklin de Oliveira (1918), Heron de Alencar (1921), José Aderaldo Castelo (1921), Segismundo Spina (1921) , Domingos Carvalho Silva (1915) , Xavier Placer (1916) , Darcy Damasceno (1922) , Carlos Burlamaqui Kopke (1916), muito dos quais se afirmam na mesma direção, em livros ou em colaborações para periódicos. Assim, Péricles Eugênio da Silva Ramos publicou : O amador de poemas (1956) e O verso romântico (1960), depois de Ter colaborado com dois capítulos, para aquela obra, sobre “a renovação parnasiana na poesia” e o “O modernismo na poesia” ; Franklin de Oliveira lançou A fantasia exata (1959), depois do capítulo sobre Euclides da Cunha ; José Aderaldo Castelo, autor do estudo sobre “O movimento academicista” do século XVIII, continua suas investigações no terreno da erudição literária com Homens e intenções (1960), Aspectos do romance brasileiro (1961) e José Lins do Rego: Modernismo e regionalismo (1961) , que iniciara, aliás, com vários estudos e edição do texto da polêmica de José de Alencar em torno da Confederação dos Tamoios; Darcy Damasceno aprofunda suas análises da poesia a propósito de Cecília Meireles, na introdução à edição completa da poetisa lançada pela Editora José Aguilar; Domingos Carvalho da Silva prossegue as suas pesquisas a propósito das origens da poesia brasileira e de outros aspectos de nossa história literária; o mesmo ocorre com Segismundo Spina a respeito das formas medievais da poesia de língua portuguesa, e Fausto Cunha sobre a poesia romântica ; Xavier Placer aplica-se ao estudo do poema em prosa no Brasil ; Carlos Burlamaqui Kopke insiste em investigações sobre poesia e estética.

Em direção idêntica surgiram obras de Ledo Ivo: O preto no branco (1955) ; Othon Moacir Garcia : Esfinge clara (1955), Luz e fogo no lirimo de Gonçalves Dias (1956), Cobra Norato - O poema e o mito (1962) ; Osvaldino Marques: O poliedro e a rosa (1952), A seta e o alvo (1957) e O laboratório poético de Cassiano Ricardo (1962) ; Dirce côrtes Riedel: O tempo no romance machadiano (1961), Aspectos da imaginística de Guimarães Rosa (1962), O mundo sonoro de Guimarães Rosa (1962) ; Eduardo Portela, revelando-se a mais aguda e mais completa organização de crítico da geração: Dimensões I (1958) e Dimensões II (1969); Adonias Filho (1915); Modernos ficcionistas brasileiros (1958); Cavalcanti Proença (1905): Roteiro de Macunaíma (1955) e Augusto dos Anjos e outros ensaios (1959); Rolando Morais Pinto, Graciliano Ramos, autor e ator (1962); Antonio Hauaiss (1915): Crítica avulsa (1960), Seis poetas e um problema (1960); Celso Cunha (1917): Estudos de poética trovadoresca (1961) . Outros, ainda que sem livros publicados, destacam-se pela mesma atitude crítica : Assis Brasil, Mário Faustino, Fábio Lucas, Rui Mourão, Afonso Àvila, Osmar Pimentel, Bráulio do Nascimento, Adalmir da Cunha Miranda, José Guilherme, Luís Costa Lima, Walmir Ayala e outros.

O movimento da poesia concretista, provocando uma intensa agitação de idéias críticas e poéticas, tem dado lugar a valiosas manifestações críticas e poéticas, tem dado lugar a valiosas manifestações críticas pela pena de Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari, José Lino Grunewald, Ferreira Gullar, Mário Chamie, Pedro Xisto, sem falar em estudos de Cassiano Ricardo e Manuel Bandeira, e de alguns dos anteriormente citados. O filósofo Euríalo Cannabrava (1908) tem dedicado numerosos trabalhos ao estudo da poesia e da teoria crítica estética.

Essas diversas manifestações referem-se a estudos de aspectos da obra literária, ora visando à análise de sua estrutura interna através dos gêneros, ora à temática, aos elementos componentes, à forma-conteúdo, aos artifícios poéticos (esquema métrico, nica da narrativa, imaginística, caracterização, estilo, vocabulário, convenções dramáticas), etc. rimático e prosódico , metáforas , estrutura estrófica, padrão rítimico, etc.) , aos artifícios narrativos.

De modo geral, a nova atitude desacreditou a crítica exclamativa, procurando ensinar a ler a literatura, interpretar seu significado intrínseco, descobrir como a linguagem funciona na obra literária, em suma, o que é literatura, que existe nela e como atua.

A nova mentalidade estende-se à organização de edições de autores, crítica ou simples. É um fato evidente a melhoria de padrão nas edições brasileiras de modo geral, destacando-se as editoras José Olímpio, Civilização Brasileira, Companhia Editora Nacional, Martins, Saraiva, Melhoramentos, Globo, Brasiliense, Agir, São José, Acadêmica e outras. Mas é no campo da edição crítica ou simplesmente de texto crítico que se revela a influência da nova atitude que as atuais gerações de estudiosos alimentam em ralação ao tratamento dos textos de autores como base indispensável ao bom estudo crítico.

Estão neste caso as edições da Editora José Aguilar, com a sua coleção em papel bíblia de autores brasileiros e portugueses, Biblioteca Luso-Brasileira, devendo mencionar-se de Castro Alves, aos cuidados de Eugênio Gomes, a de Cecília Meireles por Darcy Damasceno, a de Alphonsus de Guimarães por Alphonsus de Guimarães Filho, a de Gonçalves Dias por Antônio Houaiss, a de Raimundo Correia por Waldir Ribeiro do Val, a de José de Alencar por Cavalcanti Proença, a de Machado de Assis por Galante de Sousa, etc. Também merece referência a coleção de Livros DO Brasil da Companhia Editora Nacional, que inclui edições de Gonçalves Dias, Castro Alves, Fagundes Varela, etc. A obra de Machado de Assis tem sido objeto de especial carinho por parte dos modernos editores. Hajam vista as edições da Aguilar, em três volumes, a da Editora Cultrix, sem falar na edição oficial, do Instituto Nacional do Livro, dirigida por uma comissão de técnicos sob a égide da Academia Brasileira de Letras, com o objetivo de estabelecer o texto canônico da obra machadiana. A literatura de Anchieta foi também extremamente cuidada em edições do Museu Paulista e do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, com reprodução fac-similar e leitura dos textos. A Casa Rui Barbosa vem cumprindo modelarmente a sua missão de publicar a obra do seu patrono em edições completas ou seletas do melhor padrão; por outro lado, o Centro de Pesquisas da mesma instituição vem lançando edições do Marques de Maricá e Casimiro de Abreu por Sousa da Silveira, de Araripe Júnior por Afrânio Coutinho, do Livro de Vita Christi pelo Pe. Augusto Magne, e outras obras numa coleção de textos da língua portuguesa. O Instituto Nacional do Livro tem ocupado numerosas edições críticas, como a das obras de Tomás Antônio Gonzaga, de Bernardo de Guimarães, Alvarenga Peixoto do Bosco Deleitoso, sem falar em obras de referência bibliográfica relativas a Machado de Assis, Gonçalves Dias, o teatro no Brasil, etc., devidas sobretudo a Galante de Sousa. Edição valiosa foi a obra completa de Lima Barreto, da Livraria Brasiliense, aos cuidados de Assis Barbosa, Antônio Houaiss e Cavalcanti Proença. Mesmo quanto a edições correntes e comerciais é notória a preocupação de editores em fornecer boas edições, como as de poetas contemporâneos – Manuel Bandeira, Ribeiro Couto, Cassiano Ricardo, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, etc., pela Livraria José Olímpio, bem como a de José Lins do Rego e Gilberto Freyre, pela mesma editora, as de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Guilherme de Almeida e José Geraldo Vieira, pela livraria Martins ; a de Érico Veríssimo pela Livraria do Globo ; a de Alceu Amoroso Lima pela Livraria Agir, etc. Diversas imprensas universitárias têm republicado textos raros ou editado obras inéditas, como as da Universidade da Bahia e do Ceará.

Na crítica erudita, máxime de aplicação à exegese textual e à interpretação de autoria, merece destaque o nome do mestre Afonso Pena Júnior (1878), cuja obra A arte de furtar e o seu autor ( 1946) é clássica ; nesse terreno tem realizado obras de vulto o erudito português Rodrigues Lapa, sobretudo em relação aos poetas da plêiade mineira.

Aliando a erudição e a crítica interpretativa, destacam Augusto Meyer (1902), em A Sombra da estante (1947), Prosa dos pagos (1960), Preto & branco (1956) e Josué Montelo (1917) , em Estampas literárias (1956) e Caminho da fonte (1959) . É o caso de Guilherme César em História da literatura do Rio Grande do Sul (1956), bem como o de Mário da Silva Brito em História do modernismo brasileiro (1958).

De modo geral, o movimento editorial brasileiro da atualidade, quer pelas editoras comerciais, quer pelos diversos serviços oficiais, testemunha a modificação de mentalidade no que tange ao tratamento do texto e ao cuidado editorial. A Ecdótica desperta o interesse de estudiosos que procuram dedicar-se ao estudo de seus segredos e técnicas. Não é de menor importância a atenção especial dada aos aspectos de normalização relativos à apresentação do trabalho erudito, à redação, à disposição gráfica, à sinalização, à uniformização das referências e documentação, graças ao esforço da Associação Brasileira de Normas Técnicas (Rio de Janeiro) e a órgãos especializados como Instituto Brasileiro e Documentação Rio de Janeiro ) e aos cursos de Biblioteconomia e Documentação instituídos pelas Universidades. Cria-se, dessarte, uma consciência documental e bibliográfica, paralela à nova consciência profissional que se alastra entre os estudiosos, eruditos, críticos, historiadores, inimiga do diletantismo, autodidatismo e improvisação.


BIBLIOGRAFIA

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Curso de crítica. Rio de Janeiro, 1956.

Alceu Amoroso Lima . “A crítica literária no Brasil”, Decimália (Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro ), 1958.

Wilson Martins. A crítica literária no Brasil. São Paulo, Departamento de Cultura, 1952.

Xavier Marques. “Evolução da crítica literária no Brasil”, in Ensaios. Rio de Janeiro, vol. I, 1944.

3 comentários:

Unknown disse...

Estou com uma obra literária pronta de lançar, mas, primeiro gostaria de presenteá-los, quem se candidataria a receber um volume? Acredito que vai se surpreender, aguardo a fera. Abraços

Vários. disse...

Caro amigos, Com o único intuito de divulgar os grandes escritores e grandes livros Potiguares, foi criado um espaço para divulgar e valorizar as nossas obras literárias. Peço, gentilmente, a voces que divulguem esse trabalho sem fins lucrativos, que apenas reconhece e valoriza as obras e os autores da nossa terra. Muitos dos grandes livros e autores do RN precisam ser reeditados e relançados urgentemente, é preciso chamar atenção dos Governos Estadual, Municipal e da sociedade para essa causa. Essa luta é de todos os Potiguares.
101 livros do RN (que você precisa ler).
A Literatura do RN na web
http://101livrosdorn.blogspot.com/

Grato

Ismael L Coelho disse...

Sou escritor, e acabei de publicar um livro. Se você gosta de enigma, mistério, e quer descobrir segredos que jamais viu na vida, não deixe de conferir essa obra. http://agbook.com.br/book/166225--Profunda_Sorte (não se esqueça de colar os links no seu navegador)
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