segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Os gêneros e a Crítica Literária

Séc. XIX

Influenciado pelas ciências naturais, em especial pelo positivismo de Taine (1828-1895) e pelo evolucionismo de Spencer (1820-1903) e de Darwin (1809-1882), o crítico e professor universitário francês Brunetiére (1849-1906)defende a idéia de que uma diferenciação e uma evolução dos gêneros literários se dão Historicamente, como nas espécies naturais, sendo também determinados por fatores como raça ou a herança, as condições geográficas, sociais, históricas e a individualidade.

Brunetiére mantinha a posição normativa, segundo a qual os gêneros eram vistos como entidades existentes em si, independente mente das criações Literárias, com o que se deixava de lado a investigação do que era especificamente literários. Os gêneros, como realidade, determinariam as características da Literatura. A propósito, a poesia lírica romântica se configuraria como um gênero por ser nada mais que uma transformação natural da eloqüência sagrada do século XVII. Brunetiére propunha que fosse feito um estudo da origem, do desenvolvimento e da dissolução dos gêneros.

Benedetto Croce (1886-1952), filósofo e esteta Italiano, apôs-se diametralmente às concepções dogmáticas, naturalistas e normativas de Brunetére , combatendo-lhe o conceito de imitação, de gênero e de historiografia da obra Literária.

Segundo Croce, todo conhecimento ou é intuitivo ou lógico, produzindo respectivamente imagens ou conceitos. Ao conhecimento se liga a idéia de expressão intuir era expressar ações que nos libertariam da submissão intelectualista , que nos subordina ao e ao espaço da realidade. Croce recusava a sujeição da criação poética (de imagens) à realidade. Isso aproxima das concepções românticas, embora sua proposta tenha ido mais longe, entendia a obra literária como individualidade, considerando que quaisquer semelhanças de uma com as outras seriam de importância secundária. Daí ter preferido escrever monografias sobre autores individualizados, chegando a defendera idéia de que a história deveria fazer-se da reunião de monografias sobre grandes nomes da literatura.

Assim, a estética croceana nega a substancialidade dos gêneros, mas admite a sua instrumentalidade para a construção da história Literária, cultural e social. O conceito de gênero deveria ser entendido sempre como um elemento extrínseco à essência da poesia, uma vez que esta era sempre fruto da intuição-expressão.


Os gêneros em algumas teorias literárias do séc. XX

Os Formalistas Russos

Tynianov reintroduz a idéia de gênero como um fenômeno dinâmico, em incessante mudança, uma vez que Tynianov caracterizava a Literatura como uma constante função histórica.

Tomachevsky, consideraria como traços dos gêneros um agrupamento em torno de procedimentos perceptíveis. Ressalta que é impossível estabelecer classificação lógica ou fechada dos gêneros, porque sua dimensão é sempre história. Assim, os mesmos procedimentos podem levar a diferentes resultados, em cada época. Tomachevski, como Tynianov, ainda limitava o dinamismo dos gêneros na produção da obra às propriedades que, segundo eles, transformavam um texto em uma obra literária.

Bakhtin se voltaria para outro fator na concepção do gênero: a percepção. Além dos traços da linguagem, era necessário que se levassem em conta as expectativas do receptor, bem como a maneira como a obra literária capta a realidade. Segundo ele, era como se “filtros” se colocassem entre as obras e a realidade, selecionando-a de diferentes formas. Esses “filtros” não só permitiam distinguir o literário do não literário, mas também apontariam tratamentos específicos para cada gênero. Afastavam ainda uma generalização do que seria ou não seria historicamente literário. Assim, os gêneros apresentariam mudanças, em sintonia com o sistema da literatura, a conjuntura social e os valores de cada cultura.

Ao pregar que a nação de gênero inclui um conjunto de expectativas e de seleção de elementos da realidade, Bakhtin deixa de opor o social ao formal. Com isso, abandona as propostas imanentistas, caracterizadoras do literário apenas em suas diferenças lingüísticas.

Como um dos representantes máximos dos imanentismo, Roman Jakobson, com sua teoria da hierarquização das funções da linguagem no texto poético, identifica o literário como o predomínio da função poética sobre as demais e, com referencial (centrada na 3ª pessoa), na lírica(voltada para a 1ª pessoa), se situaria a função emotiva, e na dramática (ligada à 2ª pessoa ), se localizaria a função conotativa.

Emil Staiger em seu livro “conceitos fundamentais da poética” (1946), afasta-nos das classificações fechadas e substantivas de herança clássica, que sempre procuraram localizar as obras literárias na lírica, na épica ou na dramática. Traços estilísticos líricos, épicos ou dramáticos podem ou não estar presentes em um texto, independente do gênero.

Staiger analisa os traços dos gêneros em suas mais fortes presenças, sempre lembrando que nenhuma obra é totalmente lírica, épica ou dramática, não só por não apresentar apenas características de um único gênero, mas também porque essas características não se projetam, na constituição da linguagem, sempre da mesma maneira.

Northrop Trye, em sua obra Anatomia da crítica (1957), recolocou a questão dos gêneros acrescentando ao drama, ao épos e à lírica um quarto gênero: a ficção, que se diferencia do épos por ser episódico e contínua a ficção. Quatro são as modalidades da ficção: o romanesco (romance ), o romance (novel), a forma confessional e a sátira menipéia ou anatomia. Enquanto o romance não busca a criação de gente real, o romance (novel) apresenta personagens que trazem suas máscaras sociais. O romancista ocupa-se da análise exaustiva das relações humanas, enquanto o satirista menipeu, voltado para termos e atitudes intelectuais, prende-se às suas peculiaridades.


Estética da recepção

Hans Robert Jauss volta-se, em ensaio de 1970, para os gêneros literários, ressaltando que toda obra está vinculada a um conjunto de informações e a uma situação especial de apreensão e, por isso, pertence a um gênero, na medida em que admite um horizonte de expectativas, isto é, alguns conhecimentos prévios que conduziriam as redundâncias necessárias à recepção e à situação da obra e apresentariam marcas variáveis, não totalmente conscientes, que serviriam de orientação à leitura e à produção. A descrição de um texto literário seria, portanto, sempre história e guiada “pelo conhecimento das expectativas com que são recebidas e/ou produzidas.

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